quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Broke Side – Cap 37

37



Lia estava visivelmente nervosa com a demora daquela simples consulta. Fernando e Matheus andavam angustiados de um lado para o outro da pequena sala de espera branca e brilhante. Os funcionários do hospital transitavam agitados com pacientes em estado grave e sua expressão tranqüila conseguia aumentar a tensão entre os três amigos, eles andavam em círculos envoltos da mesinha de centro quadrados que enfeitava o local.
"Como podem estar tão tranqüilos? Esses seres não têm coração! Bando de psicopatas incubados"
_Chega! Eu não agüento esperar, já faz uma hora que a Diana entrou e ninguém me fala absolutamente nada.
_Calma Lia temos que esperar.
_ Esperar o caramba Fernando, eu vou invadir aquela sala se não me disserem como minha Dih está. (A menina foi em direção a uma das enfermeiras que circulava pelos corredores puxando-a pela manga do uniforme)
_ Sim, em que posso ajudá-la?
_Quero notícias sobre Diana Vonuck
_ A Srt é parente da paciente?
_ Eu sou a... (Fernando impediu-a de dizer algo tapando a boca de lia bem a tempo)
_ Eu sou irmão da Diana.
_ Certo, pode me acompanhar.
_ Eu já volto, não faça besteiras ouviu bem? Fique com Matheus.
_ Idiota!
_ Também te amo, agora vá.
A enfermeira tinha cabelos pretos que caiam sobre as costas até o ombro, um olhar doce que transmitia calma era algo incomum, a cor dourada do seu olhar, corpo esbelto esticado, a pele clara combinava com o hospital, ela tinha um charme diferente e a cor dos cabelos em contraste com a roupa branca dava um diferencial à garota, sua voz era baixa e meiga, quase um sussurro por entre seus lábios. Guiou-o até o quarto 520 onde abriu a porta mostrando Diana deitada sobre a maca como se dormisse tranquilamente enquanto um médico de cabelo curto com cachos bem definidos a examinava.
_ Esta é a sala, sinto muito não poder deixá-lo ficar muito tempo. Dr. Alfredo está fazendo os exames necessários em sua irmã.
_ Não se preocupe, agradeço pela ajuda. Minha amiga lá fora é um pouco... Eufórica (A enfermeira deu uma risada baixa divertida enquanto olhava delicada para Fernando)
_ Ela me diverte! Já estou acostumada.
_ Como se chama?
_ Bruna.
_ Prazer em conhecê-la.
_ Com sua licença, tem 20 minutos.
Por uns segundos Nando ficou parado na porta observando Bruna se afastar dele encantando, entrou na sala em silêncio, provavelmente o médico ali presente havia se dado conta de sua presença assim que chegou junto a Bruna. Olhava atentamente para Diana, a menina tinha uma coloração um pouco pálida, seus lábios esbranquiçados, era para ser apenas uma consulta, mas ele sabia muito bem o que estava acontecendo.
_ Ela está melhor Dr. Alfredo?
_ Ficará bem, não tema.
_ É uma grande amiga, acha que o bebê está a salvo?
_ Sim, ela tem uma anemia normal para a gravidez. Descobri há um tempo, porém Diana não me ouviu e deixou de lado a medicação que indiquei, quando chegou passando mal eu já imaginava o que seria o motivo.
_ Essa boba, sempre nos esconde as coisas. Liana vai ficar furiosa com ela!
_ Sinto informar que ela ficará em observação por essa noite só para me concretizar de que estarão controlados os efeitos.
O rapaz se aproximou de Diana passando a mão sobre seu cabelo desalinhado sobre o travesseiro de plumas, estava preocupado com a mesma. O procedimento pelo qual passaram para a inseminação fora rápida, mas deixara a mesma estranha por dias, depois a complicação com o bebê e a reação de Lia quando soube que não havia sido um doador anônimo e sim eu quem me oferecera para ser o "pai" da criança. Causou uma briga desnecessária e assim tudo foi se desenrolando desastrosamente até quando as duas finalmente fizeram as pazes no jantar de comemoração onde estavam todos. Selena, Miguel, Eu, Lia, Diana, a cambada toda sentada ao redor da mesa enquanto a mãe de Lia e a mãe de Dih serviam os convidados.
_ Precisamos conversar meninas, não apenas nós quatro como todos nós. Você está sendo ridícula com esse ciúme Lia, não vê que o Nando só quis te fazer uma surpresa?
_ E ele FEZ a surpresa! Não viu?
_ Olha o deboche LIANA ALBINO.
_ Isso não nos levará a lugar algum tia. (Diana levantou-se chateada, porém, foi impedida de se retirar pela mão de Lia que a olhava nos olhos como se no brilho deles pudesse sentir o suave pedido de desculpas, implorando que perdoasse sua atitude insensata.)
_ Não vai, por favor.
_ Acho melhor a senhorita se explicar agorinha e fazer as pazes com a Diana que isso já passou da conta.
Foi o maior alvoroço todos ao redor da mesa começaram a gritas apoiando as palavras da mãe de Liana, com as mãos na cintura e uma expressão furiosa no rosto. Podiam-se ouvir as batidas do pé sobre o chão ritmado, Fernando empolgado gritou um "Isso mesmo Tia coloca ordem na casa" arrancando gargalhadas de todos.
_ Seu gay, cala a boca!
_ Para com isso.
_ Não precisa defender ele, a raiva já passou. (De repente seu semblante ficou entristecido como se um pensamento ruim cruzasse sua mente) Eu só tinha... Inveja dele!
Nesse momento os risos pararam e a senhora com olhar raivoso sentou lentamente na cadeira como se nunca esperasse ouvir aquelas palavras da boca da filha tão derrepente. Diana ficou branca, sabia melhor do que ninguém como Lia era orgulhosa e como era difícil para assumir algo com tamanha importância pessoal na frente de simplesmente um grupo inteiro de amigos e parente mais próximos. Passou então a mão delicada sobre o ombro da namorada, em um pedido silencioso para que não falasse nada mais que já era o suficiente, mas não era o bastante para Liana.
Ela se pôs de pé segurando a mão de Diana fazendo-a sentar novamente na cadeira e inclinar a cabeça na direção de Lia para observá-la melhor.
_ Eu me senti mal por não poder dar algo que queria tanto. Eu nunca posso! Assim como aquele carro que desejava na competição, agora o bebê e tantas outras que nunca pude dar... Só queria alguma vez ser útil a quem eu amo.
Os olhares eram surpresos, estatelados nas faces como se cada um recebera uma bofetada inesperada. Ela se preocupou o bastante para sentir que não conseguia atender as necessidades de Diana.
_ Se um dia Diana te decepcionar, você deixaria de amá-la?
_ Sempre amarei ela.
_ E se algum dia ela se perder ou estiver em um lugar longe e sozinha?
_ Eu a – encontrarei custe o que custar.
_ Lia, você é tudo que a Diana precisa. Não tem que provar nada... Ninguém te substituiria.
_ Ah, Nando.
Um sorriso surgiu entre a face entristecida de Lia e os dois amigos se abraçaram forte durante uns segundos o silêncio era tudo que preenchia o ambiente, Diana levantou-se também e esperou que terminassem o abraço. Aquele olhar a deixou com as bochechas coradas.
_ Como você é linda, como é possível que me apaixone cada vez que vejo seu sorriso?
_ Eu te amo, correção... (Olhou amorosamente para a barriga ainda impossível de ser notada com um sorriso) Nós te amamos demais.
Fernando saiu do transe ao ouvir a voz do Dr. Alfredo perguntando-lhe algo sobre uma menina estética na recepção, deu uma risada divertida acariciando a mão sobre a bochecha pálida de Diana.
_ Vou lá acalmá-la Dr.
_ Me chame de Alfredo, pedirei a Bruna para ficar de olhos bem abertos em Diana essa noite.
_ Agradecemos de coração.
_ Não queremos que nada aconteça a ela, especialmente depois de tudo que passaram. Acredito que o hospital inteiro conhece a história dessas garotas Fernando.
Nando saiu apressado pelos corredores até a recepção, no caminho ouviu um estrondo e em seguida uma pilha de copos caindo no chão. Olhou ao redor, mas nada encontrou a não ser o corredor vazio, virou as costas sussurrando consigo mesmo.
_ Acho que estou vendo coisas...

Os cacos de vidro se espalharam para todo canto, chamando a atenção de todos ao redor. Uma das enfermeiras que acompanhava uma senhora de idade na cadeira de rodas pelo corredor tremia como se houvesse visto um fantasma. Bruna ao correu para socorrer a enfermeira trêmula, segurou sua mão retirando da cadeira de rodas da senhora continuando o caminho para o quarto. Não sabia o que havia acontecido mas parecia que fazer perguntas agora seria inútil, já que a enfermeira Regina Musie estava muda andando ao lado dela enquanto levavam a senhora tranquila até sua cama. Chegando lá parou a cadeira perto da cama e segurou a Senhora Marim pelo tronco forçando para colocá-la deitada, guardou a cadeira no canto do quarto pegando os remédios que estavam acima da cabeceira junto a uma foto de um homem muito bonito fardado em um porta-retrato. A foto era antiga e tinha as bordas rasgadas pelo tempo.

_ Que bonito.

Marim olhou para a fotografia pensativa, sua pele envelhecida refletia a passagem do tempo. Aquele olhar profundo seria reconhecido por Bruna a metros de distância, aquele fora o amor de sua vida! Mas o que teria acontecido aos dois? Porque não estavam mais juntos?

_ Carlitos Franza foi o homem mais lindo que já conheci.
_ Ele... Não está mais entre nós?

Uma risada brincalhona cobriu o ambiente distraindo a enfermeira paralisada que bebia um pouco de água tentando acalmar-se. As palavras saiam lentas como se cada uma pesasse para ser pronunciada, seus 89 anos afinal contaram mais do que imaginava. Marim fora a filha única de uma família da mais alta nobreza, seu pai porém deixara mais duas filhas bastardas que mais a frente roubaram toda sua fortuna assim que o pai faleceu.

_ É muito doce de sua parte dizer dessa forma, porém os anos me mostraram que algumas gentilezas deviam ser deixadas para trás caso quisesse sobreviver. Carlitos faleceu mesmo!

_ Ah, sinto muito.

Era automático sentir a tristeza pela pobre senhora deitada naquela cama de hospital, nem se lembrava de quando havia se internado quando começara a trabalhar em Cabo Frio como auxiliar de enfermagem já se ouvia falar pelos corredores de Marim. Havia bastante tempo que fora largada por aqui e ninguém conseguiu contato com algum parente que se responsabiliza-se a não ser a doce Nelma. Uma menina de 15 anos que se diz ser amiga da senhora e aparece uma vez por semana, porém não tem renda própria e não pode pagar pelos serviços. Depois de quase 2 anos sem encontrar representante Dr. Tulio Braini decidiu mante-la no hospital mesmo sem o pagamento, não poderia simplesmente joga-la no meio da rua por mais que a Senhora dissesse não se importar.

_ Não sinta, ele era o amor de minha vida.
_ Mas então, o que houve com ele?
_ Depois que meu pai faleceu perdi todo meu dinheiro, Carlitos era filho mais velho de um amigo do meu pai. Estava seguindo carreira militar, era encantador. Fomos apresentados mais intimamente quando passei por dificuldades e ele foi o primeiro se não digo o único a estender-me a mão. Nos apaixonamos e daquele dia até o fim de sua vida estivemos juntos!

_ Ah que lindo, mas... Como ele... Faleceu?
_ Foi baleado durante a guerra.
_ Então, essa foi a última vez na qual o-viu?
_ Exatamente.

Bruna estava sem palavras, nunca ouviu a história daquela senhora com tanta profundidade.

_ Porque então você é sempre tão feliz? Não que eu a-queria triste mas passou por tantas dificuldades. Acho que em seu lugar viveria triste e solitária não sorridente como sempre a vemos.

_ Querida, direi algo que te surpreenderá mas deve levar dentro de si sempre. O amor nunca morre! Ele vive dentro de nossos corações para sempre e Carlitos nunca chegou a me deixar ele cuida de mim... Aqui dentro. Me mantem feliz! Mesmo de longe posso sentir suas mão me protegendo, me ajudando nas dificuldades, seu sorriso doce que me acalmava. Tudo vive em mim!

_ Eu... Eu... Não tenho palavras. Histórias como a sua me fazem acreditar que em algum lugar ainda existe alguém para mim.

Antes que pudesse perceber seu rosto já estava banhado em lágrimas que adocicavam seus lábios. Cobriu Marim esperando que o remédio fizesse efeito e saiu com a outra enfermeira que agora já parecia mais calma do que antes.

_ Porque estava daquele jeito?

_ Eu me assustei, com os copos caindo, não vi ninguém alí que pudesse ter derrubado.

_ Ah deixa isso para lá. Não tenha medo!

_ Fácil falar, agora vai presenciar isso para ver como muda a visão.

Ambas riram enquanto mais uma vez passavam pelos corredores, em direção ao outro lado do hospital. A recepção mais uma vez estava mais calma, já que Lia por fim conseguiu permissão para entrar e ver Diana e após só depois disso pode com o coração mais tranquilo esperar o tempo necessário para buscá-la, como não poderia dormir foi junto a Matheus e Fernando até a praia e sentou-se lá observando a forma como o mar lembrava de tantos momentos preciosos que passaram juntas.
As horas passaram rápido quando começaram a combinar nomes, datas, festas tudo relacionada ao bebê que logo viria. A preocupação de todos era que esse parto acontecesse mais cedo do que imaginavam, Dih estava com quase nove meses e isso era motivo suficiente para alarmá-los com o nascimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário